Guia completo e que responde a qualquer pergunta sobre lgbt+


INTRODUÇÃO:
LGBT+ é um movimento que luta pelos direitos e por uma correta representatividade de pessoas Homossexuais (Lésbicas e Gays), Bissexuais (o que inclui a Pansexualidade, entre outros tipos), Trans (Transsexuais e Transgénero), Intersexo, Assexuais, Aliados e Queer num geral (Queer, embora possa ser usado como insulto e o uso do termo tenha uma história um pouco longa, é frequentemente usado por pessoas que não estão certas quanto a qual label usar, mas sabem que pertencem à comunidade lgbt+. Assim, Queer aplica-se a indivíduos, mas não a toda a comunidade). O movimento também pode ser chamado de LGBTQIA+, embora seja frequentemente reduzido a LGBT, estando este último termo em uso desde 1990.

O movimento inclui diversidade de género e sexualidade, e neste artigo pretendo esclarecer diversos termos que são frequentemente confundidos, conduzindo, mesmo sob boas intenções, a mal-entendidos, ofensas e ao propagar de estereótipos. Pretendo também desmistificar algumas noções erradas mas populares, mencionar a importância da representatividade e chamar a atenção para cuidados de linguagem, de forma a torna-la mais inclusiva. Não pretendo com isto gerar debate. Tudo o que aqui está escrito foi retirado de sites institucionais e será apresentado como facto, não como uma opinião aberta à discussão. Tudo aquilo que se parecer com uma opinião provém da própria voz dos membros da comunidade (sem que pessoas de determinada sexualidade e género falassem sobre uma sexualidade/género que não a sua) e foi reconhecido pelos sites já mencionados.

CONCEITOS-CHAVE:
IDENTIDADE DE GÉNERO: É a maneira como uma pessoa percepciona o seu próprio género, diz respeito à identificação-própria. Há géneros binários e não-binários.

Géneros binários: Homem e mulher. Podem ser cis – o que se considera o padrão da população, uma vez que significa que a pessoa se identifica com o género com que nasceu – ou trans – uma pessoa trans-binária identifica-se com o género oposto ao género biológico. Mulheres trans não são menos mulheres, homens trans não são menos homens. Então, uma mulher trans (por exemplo) é uma mulher cujo sexo designado à nascença (biológico) foi homem.

Géneros não-binários: Géneros que não incluem homens ou mulheres. Uma pessoa não binária usa muitas vezes o termo genderqueer para se referir a si mesma, por vezes por ainda não ter determinado exactamente qual o seu género, para evitar dar explicações ou por outras razões práticas e/ou pessoais. Passo a citar alguns géneros:    
  • Género fluído: O género com que a pessoa se identifica varia através do tempo: às vezes sente-se cis, outras vezes trans binário, outras vezes trans não-binário, noutras identifica-se com vários géneros, ou com nenhum. A velocidade com que o género muda varia de pessoa para pessoa, e para alguém se considerar género fluído, não tem de experienciar identificar-se com todos os géneros. Além disso, género fluído não é uma mistura de identidades – é uma identidade própria.
  • Agénero: Significa “sem género”, e quer dizer que a pessoa não se identifica com nenhum género, nem mesmo o fluído. 
  • Neutrois: Identifica-se como sendo género neutro. É diferente de não ter género.
  • Demigénero: Implica uma conexão parcial em relação a um certo género, sendo um termo guarda-chuva que engloba, por exemplo, demiboy (alguém que se identifica parcialmente com o género masculino) ou demigirl… 
  • Multigénero: Identificação simultânea (mas com graus de identificação variáveis) com 2 ou mais géneros.

Ideias que geram confusão:
  • Sexo e género são a mesma coisa» FALSO. O sexo de alguém relaciona-se com o físico (hormonas, genitálias, cromossomas…). O sexo biológico, ou “sexo designado à nascença” é algo atribuído por outra pessoa – por exemplo, por médicos – independentemente do quanto o bebé se possa identificar com esse sexo: assim, género relaciona-se com a identificação. Por norma, há um alinhamento entre sexo biológico, identidade de género e expressão de género, que em nada influenciam a orientação sexual de alguém. Contudo, como já foi dito, quando esse alinhamento não se dá, a pessoa é trans. 
  • Não há géneros não-binários porque só há bebés do sexo feminino ou masculino» FALSO, porque mais uma vez isso confunde a noção de sexo com a de género, e porque na realidade não há apenas 2 géneros, e sim 3: há pessoas que são Intersexo e representam 1% da população mundial, o que não é motivo para ignorar a sua existência. Geralmente, pessoas Intersexo passam por tratamento médico para que o seu corpo assuma um sexo totalmente feminino ou masculino, mas diversas pesquisas e relatórios apontam para o quanto é errado proceder a isso sem o consentimento da pessoa em questão (não é sequer o consentimento da família que se coloca em jogo), nem que para isso se espere que a pessoa cresça, até ter idade para tomar uma decisão consciente. Razões? O tratamento médico às vezes conduz a uma certa insensibilidade dos órgãos operados, e a pessoa em questão pode mais tarde não se identificar com o sexo que lhe foi atribuído.
  • Pessoas trans são homossexuais» FALSO. Identidade de género não influencia de maneira nenhuma a orientação sexual de alguém. Embora pessoas trans possam de facto ser de uma orientação sexual diferente (não necessariamente homossexualidade), não há uma relação de causa-consequência nem há nenhuma correlação necessária entre as duas noções. Vale notar que, por exemplo, um homem trans se considera hétero se gostar de mulheres, apesar de o seu sexo biológico ser mulher – a mesma lógica vale para a aplicação de outras sexualidades. Não usar os termos desse modo nega às pessoas o género com que se identificam.
  • Trans, Transsexualidade e Transgénero significam o mesmo» FALSO, há uma relação de hierarquia onde “Trans” inclui os dois outros conceitos. Uma pessoa transsexual submeteu-se a tratamento médico (como cirurgias ou tratamento com hormonas), completo ou parcial, para se assemelhar ao género com que se identifica, e é considerado um termo médico. Uma pessoa transgénero não o faz, seja por razões económicas, pessoais ou outras.
  • Pessoas trans usam pronomes neutros» PARCIALMENTE FALSO. Embora em português não tenhamos pronomes neutros, em inglês e noutras línguas há-os, como o “they” (que sim, pode ser usado no singular), e ainda outros menos conhecidos e por vezes importados de outras línguas, como o ze, spivak… É a pessoa que escolhe os seus próprios pronomes. Contudo, não é comum que quem seja trans-binário use pronomes neutros – geralmente, usam pronomes atribuídos ao género com que se identificam. É uma mulher trans? Usa pronomes femininos – e quem é género fluído usa os pronomes de acordo com o género com que se identifica no momento, seja feminino, masculino ou outro.
  • Mulheres trans vestem-se à mulher (ou vice-versa)» FALSO, pois identidade e expressão de género são coisas diferentes. Além do mais, considerar que há roupas femininas ou masculinas é até sexista, e um vestido é tão neutro quanto calças. 
  • Ser trans é ser andrógino» FALSO. O termo andrógino não remete nem para identidade de género, nem para sexo biológico, nem para orientação sexual. Remete para uma combinação entre aparência e comportamento social que denota tanto (o que se considera) características femininas como masculinas.
  • Ser trans é ser travesti» FALSO. Uma pessoa travesti ou cross-dresser veste-se de acordo com o género oposto ao género-biológico, mas não se identificam com o género oposto. Isso também vale para drag queens e drag kings, com a diferença de que drags são, geralmente, homossexuais ou bissexuais, enquanto que travestis são hétero. O termo travesti caiu em desuso em deterioração de cross-dresser, por travesti ser associado a fetichismo, devido ao livro "Diagnóstico e estatística manual  de distúrbios mentais" (DSM), o mesmo que, há anos atrás, declarava a homossexualidade (sob o nome de “homossexualismo”) uma doença. Quem é cross-dresser por vezes não se limita a adotar roupas do género oposto, como também adota maneirismos típicos, como uma forma de questionar os papéis de género. Cross-dressers podem manifestar alguma disforia de género (tal como pode quem é trans), mas nem isso nem fetichismo são requisitos para alguém ser cross-dresser, havendo uma variedade de razões para tal.
  • Se permitirmos a alguém trans entrar no quarto de banho que quiser, vão ocorrer casos de assédio» FALSO, e apesar de o assunto ser polémico, focando nos factos, até agora há 0% de relatos acerca de incidentes nessas condições. Especialistas na área dizem que essa acusação requer uma base de dados e que até agora nenhum assaltante sexual clamou o direito de estar num determinado quarto-de-banho por ser trans. Contudo, já se deu o contrário: quanto pessoas trans não podem usar a casa de banho do género com que se identificam e por vezes aparentam ser, são obrigadas a entrar no do sexo que lhes foi designado à nascença, as pessoas à volta por vezes apercebem-se e assediam-nas. Para quem se quer informar acerca da polémica, uma sugestão é começar por pesquisar pela hashtag #wejustneedtopee, que defende os direitos das pessoas trans, mas não apresenta solução a quem é de um género não-binário. Quem é não binário prefere, geralmente, que haja a opção de casas de banho neutras.
  • Quem é trans experimenta disforia física» PARCIALMENTE FALSO. A mídia tende a propagar a ideia de que uma pessoa trans está “presa no corpo errado”, mas essa frase não provém da comunidade trans – foi criada por um médico (Harry Benjamin) que, sendo aliado da comunidade e querendo garantir que pessoas trans usufruíssem do tratamento médico que desejassem, escreveu um guia para outros médicos onde essa frase era usada como sintoma. Tendo lido o guia, as pessoas trans começaram a usar essa frase para serem “diagnosticadas” e atendidas mais rapidamente. É mais frequente que a disforia física se aplique a quem é de um género binário, embora essa seja apenas uma generalização, mas a questão é que para quem é não-binário, não há propriamente um tipo de “corpo certo”. Disforia física descreve o desconforto que algumas pessoas sentem ao não serem percepcionadas por quem as rodeia como o género com que se identificam, enquanto que Euforia física descreve o contentamento em ser correctamente percepcionado. Mas há também quem seja trans e que não se incomode com a percepção que as outras pessoas têm de si.

ORIENTAÇÕES SEXUAIS: Indica o/os géneros por quem a pessoa se sente atraída.

Tipos de atração: Atração sexual (ou a falta/baixa manifestação dela) não é o mesmo que atração romântica, então primeiro é melhor listar os vários tipos de atração.
  • Estética: Gostar da aparência de alguém sem desejar qualquer tipo de envolvimento.
  • Romântica: Desejo de se envolver romanticamente com alguém, sem implicar necessariamente contacto físico. Uma pessoa pode ser: heteroromântica (sente atração por um género que não o próprio), homorromântica (atração pelo próprio género), bi/panromântica (atração pelo próprio género e por um género que não o próprio, não necessariamente o oposto, e não necessariamente só 2 géneros) ou arromântica (ausência de atração romântica).
  • Sensual: Geralmente implica atração romântica e o desejo de contacto físico, mas sem o envolvimento de relações sexuais.
  • Sexual: Geralmente implica os tipos de atração anteriores e o desejo de relações sexuais.

Tipos de sexualidades/atração sexual:
HETEROSSEXUALIDADE: É considerada a sexualidade padrão, da mesma forma que cis é considerado o género padrão. Significa que se sente atração sexual por um género que não o próprio - não necessariamente o oposto. A definição costuma ser reduzida para “gostar do sexo oposto” porque a maioria da população não tem conhecimento de que há mais géneros.

HOMOSSEXUALIDADE: Atração manifestada exclusivamente pelo próprio género. Ideias que geram confusão:
  • Quem é homossexual não se identifica com o próprio género» FALSO. Como já dito, não há correlação entre identidade de género e sexualidade.
  • Gay é usado para homens, e lésbica é usado para mulheres» INCOMPLETO. O termo Gay também pode ser usado por mulheres homossexuais. Há ainda quem seja de outras sexualidades (bi/pan) ou quem não é homossexual mas é homorromântico, e se diz homossexual (gay ou lésbica), independentemente do género. A escolha da label deve-se ao facto de a homossexualidade ser mais aceite e a maioria das pessoas reconhecer a sua existência e significado. Labels não são apenas uma questão de definições – são também uma questão de auto-percepção, conforto e, por vezes, posição política, pelo que ninguém tem o direito  de dizer a quem é lgbt+ que está a usar a label errada.
  • Matar personagens homossexuais em histórias é uma crítica» FALSO, e a própria comunidade lgbt+ e seus aliados deu um nome a isso: Bury your gays. Quase todos os relacionamentos percepcionados como homossexuais – sejam eles formados por pessoas homossexuais ou de outra sexualidade, ou seja, simplesmente do mesmo género – caem em estereótipos ou acabam com uma das personagens envolvida morta. A percentagem de mortes é ainda mais alta após cenas de sexo (uma ocorrência recente com a série The 100 originou o movimento “Lexa deserved better”). A comunidade não considera isso uma crítica a partir do momento em que não sobrevivem casais lgbt+ bem representados (em termos de desenvolvimento de personagens, com etnias diversificadas e um papel imprescindível para a história), até porque esse número de mortes faz com que quem seja lgbt+ interiorize a ideia de que só existe para comover quem é cis-hétero, ou para ser punido.

BISSEXUALIDADE: É um termo guarda-chuva que inclui toda a gente que gosta de pelo menos dois géneros, nem que a atração seja parcial. Ou seja, inclui a própria bissexualidade, polysexualidade (atração por quase todos todos os géneros, incluindo o próprio) e pansexualidade (atração independentemente do género). Também abrange pessoas de sexualidade fluída (que durante certas fases da vida se encontram em partes distintas da escala de Kinsley, que determina “graus” de bissexualidade), quem é heteroflexível (maioritariamente hétero), homoflexível (maioritariamente homossexual), e bi-curiosos, alguém que por norma não se identifica como bi mas sente vontade de experimentar estar com outros géneros. Quem é apenas bi/panromântico também se pode auto-intitular de bi/pan. Ideias que geram confusão:
  • “Bi” significa 2, então quem é bi é transfóbico» FALSO, até porque, mesmo por essa lógica, não seria totalmente transfóbico – estaria a excluir géneros não-binários, mas quem é trans-binário não é menos homem/mulher, e não estaria excluído. Contudo, no contexto, “bi” não significa 2 e sim dualidade: atração pelo próprio género E por um género que não o próprio – não há especificações quanto ao número de géneros nem se concretiza que tem de ser atração pelo género oposto.
  • Bissexualidade e Pansexualidade são a mesma coisa» FALSO. Como dito, ser bi não implica gostar só de 2 géneros, mas também não é o mesmo  que Pansexualidade. Não por uma questão de números, mas por uma questão de experiência e percepção. A pansexualidade é definida como a atração INDEPENDENTEMENTE do género, então quem se identifica como pan, por norma, não vê diferencial entre os vários géneros. Quem é bissexual (no sentido mais restrito da palavra), prefere considerar que cada género tem características distintas que devem ser apreciadas precisamente pelo seu diferencial.
  • Quem é bissexual é 50% homossexual e 50% heterossexual» FALSO, e a escala de Kinsely existe para provar isso mesmo. A atração pelos muitos géneros pode manifestar-se a diferentes graus.
  • Quem é bissexual gosta dos vários géneros ao mesmo tempo» FALSO, embora tal também possa ocorrer. Mas a bissexualidade não implica atração simultânea – implica sim a possibilidade de se gostar dos vários géneros, o reconhecimento de que o género não é um impeditivo à atração. Uma pessoa pode passar toda a sua vida a namorar com pessoas do género oposto e ser bi, da mesma forma que uma pessoa pode ser celibatária e sentir atração sexual. A label não é atribuída pela experiência, e sim pela auto-percepção que alguém tem de si mesmo. Porém, há de facto bissexuais em relacionamentos poliamorosos (um relacionamento que envolve mais de 2 pessoas, que não deve ser confundido com traição, pois todos os envolvidos sabem e é conduzido de acordo com vários princípios éticos) que também devem ser lembrados. Contudo, não são só bissexuais que podem optar por relacionamentos poliamorosos: estes também se encontram entre heterossexuais, homossexuais e até mesmo assexuais. Não há qualquer correlação entre poliamor e bissexualidade.
  • Bissexuais têm tendência a trair porque vão sentir sempre falta “do outro” género» FALSO, e isso sim é transfóbico, já que há muitos géneros. A maioria dos bissexuais acha esse argumento ilógico porque a traição não depende da sexualidade, e sim dos valores e comportamentos das pessoas envolvidas num relacionamento – quem é hétero pode facilmente trair uma pessoa loira por uma morena, ou não. Então, quem é bissexual pode trair um género por outro, ou não. Além disso, a bissexualidade é encarada pela comunidade como uma forma de amar em que o género é a característica menos importante de alguém (embora deva ser respeitado). Como tal, não faz sentido quem ser bissexual sentir falta logo daquilo que menos lhe importa.
  • Bissexuais são pessoas hétero em transição para homossexuais (ou vice-versa)/são uma mistura entre hétero e homossexualidade/estão só a passar por uma fase/estão confusos» Embora bissexuais compreendam que essa noção de “mistura” facilite a compreensão da maioria da sociedade, consideram-na redutora e um pouco ofensiva, pois torna a bissexualidade dependente de outros dois conceitos, quando é uma sexualidade própria. Como tal, quando uma pessoa se assume bissexual, não está a dizer que não sabe se é hétero ou homossexual – ou seja, não quer dizer que está confusa. Quanto à questão do “é só uma fase”, é um facto que a maioria dos bissexuais terminam em relacionamentos com alguém do género oposto, mas tal deve-se à dificuldade em encontrar alguém que sinta atração pelo próprio género E QUE simultaneamente não seja bifóbico (pois, de acordo com pesquisas, um grande número de pessoas homossexuais é bifóbico). Seja como for, já foi dito que a bissexualidade não depende dos relacionamentos de alguém, e independentemente do género com que a pessoa esteja ou possa terminar, continua a ser bissexual, desde que se considere como tal.
  • Bifobia não existe / é a mesma coisa que Homofobia» FALSO. Os conceitos são distintos, e enquanto que a homofobia se manifesta geralmente entre heterossexuais, a bifobia faz-se sentir tanto fora como dentro da comunidade lgbt+. Por exemplo sob a forma de “invisibilidade bi” (termo usado para designar o apagamento da comunidade bissexual, que se manifesta, por exemplo, sob a recusa em anunciar claramente a label em programas de televisão/filmes – ao não anunciar que uma personagem é bi, os espectadores assumem, reforçando, o estereótipo de que bissexuais são só “héteros em transição” ou que estão a passar por uma “fase” – ou sob a assunção automática de que relacionamentos entre pessoas do mesmo género envolvem pessoas homossexuais, sem que se considere que pelo menos uma pessoa lá pode ser bissexual). A bifobia também se deve à noção errada de que quem se diz bi é na verdade homossexual, mas não admite para não sofrer homofobia, quando pelo contrário a estatística mostra que, quem é bi, também sofre de homofobia quando está a ser percepcionado como homossexual, está mais inclinados a sofrer preconceito e tem mais chances de sofrer “assédio correctivo”.

ASSEXUALIDADE: É também um termo guarda-chuva que inclui a assexualidade num sentido mais restrito (ausência de atração sexual ou pouco interesse por actividades sexuais), mas também todo o espectro da Grey-sexualidade (um meio-termo entre a sexualidade e a assexualidade, que se manifesta como interesse ocasional, ou sob condições muito específicas, por sexo). Outra subcategoria conhecida é a Demissexualidade, em que a pessoa só sente atração sexual por alguém de quem seja realmente muito próximo, mas há outros termos. Ideias que geram confusão:
  • Todos os assexuais são arromânticos» FALSO, e bem pelo contrário, uma grande parte deles quer arranjar um parceiro, sentem atração romântica (de qualquer tipo), sensual e até há os que pensam em adotar crianças. Claro, também há assexuais arromânticos, mas isso não invalida a existência dos restantes.
  • Como nem todos os assexuais sentem atração por pessoas do próprio género (ou seja, não sendo homo/birromânticos), nem todos estão incluídos na comunidade lgbt+» FALSO. Se a comunidade lgbt+ só incluísse pessoas que sentem atração pelo próprio género, nem sequer todas as pessoas trans poderiam ser incluídas. A comunidade não foi criada com essa função, e sim com a função de lutar por direitos e visibilidade de quem não a tem. Os assexuais são dos grupos mais raramente representados, e quando o são, geralmente caem em estereótipos, portanto todos eles merecem estar incluídos no movimento, independentemente da sua atração romântica. 
  • Assexuais são inocentes / não gostam de sexo» FALSO, e alguns deles fazem questão de deixar claro que até têm jeito para fazer “piadas porcas”, uma piada interna da comunidade. Quanto a desejar envolvimento sexual, tal não é do interesse da maioria dos assexuais, mas isso não significa que não gostem. Na verdade, uma parte razoável deles admite gostar de sexo, só não é algo de que sintam falta ou que lhes ocorra com a frequência a que ocorre à maioria das pessoas. Porém, também há os que realmente não gostam. A questão é que uma pessoa pode considerar-se assexual por uma grande variedade de razões, e “gostar/não gostar de sexo” não é necessariamente uma delas.
  • Ainda não encontraram a pessoa certa» FALSO. Muitos deles até estão em relacionamentos amorosos e gostam da pessoa com quem estão, mas continuam a não sentir atração sexual. Mais uma vez, sexualidades são algo distinto de atração amorosa/romântica. Assumir que toda a gente tem de se interessar por sexo, pois caso contrário a pessoa está “quebrada”, é uma das formas de preconceito mais comuns usadas contra assexuais.
  • São celibatários» FALSO. Podem ser, mas não necessariamente. Celibatários optam por abstenção sexual, mas é uma escolha que não depende do facto de eles sentirem atração sexual ou não. Na assexualidade, pelo contrário, temos casos de quem não consegue sentir atração sexual nem sequer se tentar, portanto passa longe de uma escolha. Além disso, há assexuais que optam por se envolverem sexualmente, mesmo quando não estão muito interessados nisso, para satisfação do parceiro – outra ponto que se opõe a ser celibatário. A assexualidade não é um termo que dependa do comportamento sexual de alguém, e sim da forma como a pessoa se sente em relação ao mesmo.

CUIDADO COM A FORMA COMO SE FALA!
Agora que quase todos os nomes estão definidos, aqui estão chamadas de atenção para quem é aliado do movimento lgbt+ não ser ofensivo por acidente.
  • Queer é um termo que só pode ser aplicado a indivíduos, e isto se eles próprios autorizarem o uso – uma vez que o título já foi usado como insulto. Refiram-se às pessoas pelas labels que elas escolherem. Quanto à comunidade, ela deve ser chamada de lgbt+.
  • É mais correto dizer lgbt+ do que lgbt, por ser mais inclusivo. Pode não fazer grande diferença para quem está incluído nas 4 primeiras letras, mas representando uma luta por visibilidade e direitos, não simbolizar que há mais grupos incluídos acaba por ser contraproducente.
  • É preferível dizer apenas “trans”, em vez de Transsexual, pois dizendo “trans” está-se a incluir quem é Transgénero, que não merece ser excluído.
  • Nunca se deve dizer HomossexuaLISMO – É homossexuaLIDADE. Homossexualismo era a designação usada quando a homossexualidade era considerada uma doença.
  • O padrão não é feito só de pessoas hétero. É constituído por pessoas cis-hétero. Não deixar explícito que há várias identidades de género acaba por excluí-las.
  • A não ser que alguma situação trate dessa sexualidade específica, não se deve conduzir conversas sobre lgbt+ a focar só “nos gays” ou na “homofobia”. Todas as sexualidades, identidades de género e respectivas fobias existem e não devem ser ignoradas.

CONCLUSÃO
A heteronormatividade da sociedade levou ao apagamento das minorias incluídas em lgbt+, e à propagação de noções erradas ou incompletas acerca delas. Espero que com este artigo exaustivo tenha conseguido clarificar que, tanto a sexualidade, como o género, são algo mais variado do que a maior parte das pessoas cresce a pensar, e que é essa diversidade que compõe o mundo onde vivemos. Para respeitar, é necessário conhecer. Assim sendo, dispus aqui algumas das informações que possibilitarão uma compreensão mais pro funda da realidade.